Donatário, um grande vinho
Escrevo às sete da tarde. A esta hora, tenho normalmente a companhia de um bom vinho branco. Desta vez, é uma surpresa, o Donatário dos Biscoitos, da casa Brum, de que já falei, no desconhecimento do vinho. Vale nota. O meu caro amigo Luís Brum é exemplo da amizade açoriana e nunca me deixa desamparado. Hoje o carteiro não tocou duas vezes, só uma para me entregar a garrafa que abri e que estou provando. Começo por transcrever o retro-rótulo, que vale a pena.
Mas vamos ao vinho. Como é norma, primeiro o bouquet. Não sou muito exigente no caso dos brancos, mas este abusa. Aconselho a bebê-lo em copo de tinto, para se aperceberem do excelente aroma, raro num branco. Depois a prova. Não é um vinho fácil, mas cai especialmente nos que gostam dos vinhos com sabor a pedra, como eu aprendi a apreciar com os Dorin-Dézaley, quando vivi na Suíça. Neste caso, a pedra é o basalto das curraletas. Ao mesmo tempo, o frutado, mas como eu gosto, de frutas silvestres e com os sabores açorianos, amora e groselha, ainda claramente louro e um ligeiro toque de chocolate. E como é que me sabe a pimenta da Jamaica, tipicamente terceirense, ou estou a desvariar? Também me sabe a prado e a touro das corridas à corda. Que mais dizer? Aquilo que normalmente também não se exige muito a um branco, o fim de boca. Neste aspecto, o donatário parece um tinto.
No entanto, para concluir, este não é um vinho nada fácil. É amar ou odiar. O meu lado vai para o amor. Comparativamente, tendo falado do Frei Gigante do Pico, creio que o picoense cairá mais facilmente no gosto mediano, mas o Donatário é muito mais desafiador. Certamente que poderá ser melhorado, principalmente em relação a alguma rusticidade. É um vinho um pouco agreste, o que poderá ser corrigido na vinificação, não nas uvas. Ficará magnífico.
Recomendação final: atenção aos novos brancos açorianos! O problema é que a maioria dos meus leitores nunca os conhecerá senão lá, porque creio que a produção é demasiadamente limitada para exportação para o continente.
"É a pedra solta do basalto biscoito, que forma o entravessamento das curraletas, padrão dos povoadores do norte da ilha, símbolo de trabalho e de persistência, abrigo das cepas e acumuladoras de calor. Nascido da lava, no litoral, entre os Altares e as Quatro Ribeiras, este vinho foi produzido a partir de castas antigas, tendo sido vinificado com controlo de temperatura de fermentação. Tem um agradável equilíbrio de fruta e frescura. Deve beber-se fresco (8-10ºC)"Imperdoável, meu caro Luís, espero que corrijas, é a não indicação das castas. Aposto em verdelho e arinto, talvez terantês. Acertei? O rótulo também merecia mais.
Mas vamos ao vinho. Como é norma, primeiro o bouquet. Não sou muito exigente no caso dos brancos, mas este abusa. Aconselho a bebê-lo em copo de tinto, para se aperceberem do excelente aroma, raro num branco. Depois a prova. Não é um vinho fácil, mas cai especialmente nos que gostam dos vinhos com sabor a pedra, como eu aprendi a apreciar com os Dorin-Dézaley, quando vivi na Suíça. Neste caso, a pedra é o basalto das curraletas. Ao mesmo tempo, o frutado, mas como eu gosto, de frutas silvestres e com os sabores açorianos, amora e groselha, ainda claramente louro e um ligeiro toque de chocolate. E como é que me sabe a pimenta da Jamaica, tipicamente terceirense, ou estou a desvariar? Também me sabe a prado e a touro das corridas à corda. Que mais dizer? Aquilo que normalmente também não se exige muito a um branco, o fim de boca. Neste aspecto, o donatário parece um tinto.
No entanto, para concluir, este não é um vinho nada fácil. É amar ou odiar. O meu lado vai para o amor. Comparativamente, tendo falado do Frei Gigante do Pico, creio que o picoense cairá mais facilmente no gosto mediano, mas o Donatário é muito mais desafiador. Certamente que poderá ser melhorado, principalmente em relação a alguma rusticidade. É um vinho um pouco agreste, o que poderá ser corrigido na vinificação, não nas uvas. Ficará magnífico.
Recomendação final: atenção aos novos brancos açorianos! O problema é que a maioria dos meus leitores nunca os conhecerá senão lá, porque creio que a produção é demasiadamente limitada para exportação para o continente.
6 Comentários:
Salve João,
saiba que aqui, do outro lado do Atlântico, ficamos com uma inveja construtiva deste seu Donatário e da forma poética como lhe foi entregue.
Um abraço, Eduardo
Enganei-me nas castas. Fui ver ao site da Casa Brum e vejo que é só verdelho.
Vou tentar resumir uma longa conversa telefónica com o Luís Brum (não aceito nunca a ideia feita de que os açorianos são tristonhos e de poucas palavras! Deviam ver como o Luís puxa conversa, uma atrás de outra).
Dei hoje a provar o Donatário a um bom apreciador. A sua opinião foi de que o vinho tinha grande personalidade, mas um defeito: principalmente no fim de boca, sabia a maresia. Concordei, mas achei que era coisa positiva, é cheiro e sabor que me enche a alma de ilhéu.
Luís Brum concorda, diz que não é caso único, que há outras regiões em que as uvas, muito próximas do mar, absorvem aromas de maresia. Agora que me lembro, recordo isto, muitos anos depois, em relação a brancos canadianos excelentes, do Labrador.
Em conclusão, se não gostam de marisco, não bebam o Donatário.
Caro Amigo
Concordo consigo quando afirma que o Donatário, é realmente um branco da Casa Agricola Brum muito suigeneres, e que merece ser apreciado por quem gosta de bons vinhos brancos, no entanto permita-me discordar do facto de quem não gosta de marisco não pode gostar deste excelente vinho, pois não gosto de nenhum marisco e bebo sempre que possivel este vinho da Ilha Terceira.
Um abraço,
Caro Amigo JVC:
Como conseguiu detectar tantos sabores característicos dos vinhos tintos (amora, groselha, chocolate!) num vinho branco?
Acho que tenho de rever as minhas "memórias" de sabores porque desde o primeiro ano de produção que bebo e divulgo o Donatário e nunca dei por sabor a touro (é semelhante a carne crua? a carne cozinhada? a estrume?).
Já agora um esclarecimento para o facto de não aparecer a casta do vinho indicada no contra rótulo: os vinhos de mesa NÃO podem ter indicada(s) a(s) casta(s) e o ano de produção, conforme determinado no Reg. (CE)n.º 1493/99 de 17 de Maio, DL n.º 376/97 de 24 de Dezembro e Portaria n.º 924/2004 de 26 de Julho.
Está assim "perdoado" Master Brum.
Não posso, ainda, deixar de comentar a sua afirmação "se não gostam de marisco, não bebam o Donatário": conheço muito boa gente que não gosta de marisco mas delicia-se com este vinho. Mas como gostos não se discutem, mas sim educam-se, ando a ver se os convenço a gostar de marisco, juntamente com o Donatário é claro!
Quanto ao resto estamos de acordo: é um Grande Vinho e bem haja Mestre Brum
Com elevada consideração,
Pedro Manaças
Pedro Manaças tem razão, à primeira vista. O que eu escrevi não prece adequado a um branco convencional. Mas a verdelho não é uma casta branca convencional. Começa pela cor. Não posso garantir, há muitos anos que não vejo uma vinha verdelho, mas a ideia que tenho é de uma uva de cor dourado forte, com alguns laivos púrpura. O Luís Brum que me perdoe se estiver a dizer asneira, falo de memória. Fui repescar um velho escrito madeirense, que já estava esquecido na estante dos livros, em que se acentua o gosto a frutos secos do verdelho, coisa invulgar num branco. Eu vou mais pelos silvestres, no caso do Donatário, mas não sou provador perito. Do que tenho a certeza é que não tem nada a ver com o frutado de uva de que tanta gente gosta em brancos na moda, eu não.
Quanto a especiarias (simbolizei no nosso típico "pau de cravo" terceirense, a pimenta da Jamaica), aí aposto mesmo. É sabor que tenho na língua desde a cozinha da casa paterna. Até já me têm criticado por a usar demais na minha cozinha.
A propósito, chamo a atenção dos incautos para o erro da identificação de vinho branco com uva branca. Há excelentes brancos feitos com uvas tintas. A questão está no desengaço. E o bom champanhe não é feito com uvas tintas?
A referência aos que não gostam de marisco era brincadeira. Brincadeira para mim mais óbvia era o do sabor a touro (não faço ideia do quer isto é), estava só a "meter-me" com os amigos terceirenses e as touradas à corda, de que tenho tantas saudades. Ficarão para as próximas férias.
Os comentários a este post estão a cruzar-se com os comentários a um anterior, sobre o queijo velho de S. Miguel. Vão ver, se estiverem interessados. Aí falo do que julgo ser a grande vocação do Donatário, não a de simples vinho para peixe, mas vinho para ocasiões especiais. Há coisas em que tanto fica bem um generoso como um branco vigoroso e com personalidade. É o caso dos "cheese parties", coisa tão pouco vulgar entre nós mas não para quem, como eu, viveu na Suíça.
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