Férias em S. Miguel (III)
Mariscos e vinho branco açorianos
Férias em S. Miguel não são propriamente baratas. Mas são experiência única e atitude necessária é não pensar na conta bancária. Isto vem a propósito de coisas indispensável, um grande jantar de mariscos. Há várias marisqueiras mas aconselho, por qualidade e preço, o Cruzeiro, na Atalhada, ao chegar à Lagoa vindo de Ponta Delgada.
Primeiro, umas cracas. Nem sabem o que são, uns moluscos metidos em conchas da pedra, coisa magnífica, polpa de sabor entre o delicado indescritível e o sabor de maresia. Só consegui a imagem de uma fonte brasileira, mas está muito longe da craca açoriana. A minha é de pedra negra, com cascas verde escuro, com muitos alvéolos e cheia de algas. Tradicionalmente, tiram-se da concha com um cravo de ferradura dobrado na ponta, pescando-os imediatamente por debaixo da concha que tapa o alvéolo. Atemoriza os continentais, mas ao fim de pouco tempo adquirem a técnica.
A seguir, uns cavacos, vivíssimos, apanhados no mar e mantidos em viveiro também de mar, até ao consumo. São a lagosta de pedra, sem antenas, substituídas por umas placas que não se comem. Pernas também não, pequenas e quase sem recheio, come-se só a carne. Tradicionalmente, são servidos com molho verde: uma vinagreta com muita cebola picada, alho, salsa, malagueta, cravinho e, obrigatoriamente, açafroa. Faltou a malagueta e a açafroa. Ai, cozinha da minha terra, que andas tão mal tratada! Vou ter de escrever mais sobre isto.
Para não multiplicar entradas, e porque uma refeição destas só com vinho, aqui vai uma nota. Com a filoxera, no século XIX, acabou o bom vinho açoriano, substituídas as cepas pela horrorosa uva de cheiro, americana. Restou apenas o vinho generoso verdelho, nos Biscoitos e no Pico, mas com produção muito escassa e mal conhecidos no continente. Nas últimas décadas, tem-se assistido a algumas experiências muito interessantes de dignificação do genuíno vinho açoriano. Começou, há muitos anos, com o Terras do Conde, da Graciosa, não muito conhecido, mas que resultou numa magnífica aguardente envelhecida. Se forem aos Açores, não a percam.
Depois, foi a Adega Cooperativa do Pico, com o seu branco Terras de Lava. Nunca percebi a charunfada da mistura de castas: arinto, generosa, seara nova, Rio Grande. Agora sim, um vinho muto bom, o Frei Gigante, das castas genuínas açorianas: arinto, terantês e verdelho. Não tem grande bouquet mas isto não se pede muito a um branco. À boca, secura sem aspereza, paladares subtis, elegância. Sabor a basalto e pasto, para falar em termos açorianos. Depois, um fim de boca a pedir mais um copo. Creio que os meus amigos, se não forem lá, não o provarão. Terra pequena, produção limitada, exportação impossível. Isto quanto a brancos. Não acredito que ainda vá beber um bom tinto açoriano.
Férias em S. Miguel não são propriamente baratas. Mas são experiência única e atitude necessária é não pensar na conta bancária. Isto vem a propósito de coisas indispensável, um grande jantar de mariscos. Há várias marisqueiras mas aconselho, por qualidade e preço, o Cruzeiro, na Atalhada, ao chegar à Lagoa vindo de Ponta Delgada.
Primeiro, umas cracas. Nem sabem o que são, uns moluscos metidos em conchas da pedra, coisa magnífica, polpa de sabor entre o delicado indescritível e o sabor de maresia. Só consegui a imagem de uma fonte brasileira, mas está muito longe da craca açoriana. A minha é de pedra negra, com cascas verde escuro, com muitos alvéolos e cheia de algas. Tradicionalmente, tiram-se da concha com um cravo de ferradura dobrado na ponta, pescando-os imediatamente por debaixo da concha que tapa o alvéolo. Atemoriza os continentais, mas ao fim de pouco tempo adquirem a técnica.
A seguir, uns cavacos, vivíssimos, apanhados no mar e mantidos em viveiro também de mar, até ao consumo. São a lagosta de pedra, sem antenas, substituídas por umas placas que não se comem. Pernas também não, pequenas e quase sem recheio, come-se só a carne. Tradicionalmente, são servidos com molho verde: uma vinagreta com muita cebola picada, alho, salsa, malagueta, cravinho e, obrigatoriamente, açafroa. Faltou a malagueta e a açafroa. Ai, cozinha da minha terra, que andas tão mal tratada! Vou ter de escrever mais sobre isto.
Para não multiplicar entradas, e porque uma refeição destas só com vinho, aqui vai uma nota. Com a filoxera, no século XIX, acabou o bom vinho açoriano, substituídas as cepas pela horrorosa uva de cheiro, americana. Restou apenas o vinho generoso verdelho, nos Biscoitos e no Pico, mas com produção muito escassa e mal conhecidos no continente. Nas últimas décadas, tem-se assistido a algumas experiências muito interessantes de dignificação do genuíno vinho açoriano. Começou, há muitos anos, com o Terras do Conde, da Graciosa, não muito conhecido, mas que resultou numa magnífica aguardente envelhecida. Se forem aos Açores, não a percam.
Depois, foi a Adega Cooperativa do Pico, com o seu branco Terras de Lava. Nunca percebi a charunfada da mistura de castas: arinto, generosa, seara nova, Rio Grande. Agora sim, um vinho muto bom, o Frei Gigante, das castas genuínas açorianas: arinto, terantês e verdelho. Não tem grande bouquet mas isto não se pede muito a um branco. À boca, secura sem aspereza, paladares subtis, elegância. Sabor a basalto e pasto, para falar em termos açorianos. Depois, um fim de boca a pedir mais um copo. Creio que os meus amigos, se não forem lá, não o provarão. Terra pequena, produção limitada, exportação impossível. Isto quanto a brancos. Não acredito que ainda vá beber um bom tinto açoriano.
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