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março 26, 2007

Loja de queijos

Infelizmente, não é no continente e acessível ao meu dia-a-dia. Loja de queijos foi coisa a que me habituei, há 35 anos, como o tempo passa, quando vivi na Suíça. Aliás, nem lá ia muitas vezes, porque, em regra, encomendava o que queria de preciosidades ao meu fornecedor diário, ao domicílio, de pão, leite, lacticínios, charcutarias, batatas para o rösti, "gourmandices". Não há ninguém que se lembre de um negócio destes entre nós?

Não é uma loja de queijos à panorama mundial, só açorianos. Mesmo assim, são dezenas de variedades de queijos açorianos. E não é loja de gente apressada e de coisas embaladas. Os queijos estão à vista, com a faquinha para a lasca de prova e o fornecedor, um homem relativamente jovem, só não parece o grande entendido que é porque se sobrepõe a imagem de uma grande simpatia, e conversa a correr, à açoriana, "se bem me lembro!".

Muito injustamente, não posso identificar esta personagem típica, muito menos indicar o nome da loja. Mas não há que enganar. Subir até ao mercado, pela R. de S. João, passar o Teatro e a Escola Roberto Ivens e apurar o nariz, porque logo à esquina do Mercado, no lado exterior, cheira a queijo.

Vou começar pelos menos conhecidos. Corvo, confesso que só o provei há pouco tempo. Pico, desconhecido entre nós, é um queijo de vaca curado mas mole, talvez não mais do que 2 semanas de cura, pequeno (cerca de 20x3 cm), com muitos "olhos", entre o suave e o ligeiramente azedo. Mas também há o S. João, uma variante. Só provando e testando a vossa capacidade de distinguir queijos, que isto não é para quem engole Camembert de leite pasteurizado como se fosse de leite fresco, ou, pior, confunde Camembert com Brie.

Depois, uma variedade de queijos modernos, de pasta semi-mole, muito bem conseguidos. São quase todos experiências micaelenses recentes. Infelizmente, falha-me a memória para lembrar os nomes. São campeonatos diferentes, os queijos de pasta mole e de pasta dura. No primeiro, estes novos queijos açorianos (a meu ver um pouco condescendentes demais com a suavidade) rivalizam bem com qualquer queijo da tradição continental do queijo de ovelha.

Só tenho pena que não se possa fazer nos Açores cabra curado, como se fazia, em fresco, o tradicional "queijo de cobra". A lembrar-me deste, imagino o que seria de sabor silvestre de ervas e arbustos de um cabra micaelense, mas a brucelose não perdoa.

E, antes de passar à primeira liga, outros casos dignos de notícia. O cheddar tradicional de S. Miguel. E o "flamengo" Terra Nostra, para mim sem rival mesmo que limiano (que até é muito aceitável). Podiam fazer-se outros, que a moderna tecnologia consegue reproduzir perfeitamente, com as colecções de fungos disponíveis, e com a qualidade do leite açoriano, Camembert, Roquefort, Gorgonzolla.

Claro que não faltam, com grandes honras, os mais variados S. Jorge e também o queijo velho de S. Miguel. Já aqui falei de um e de outro. Por agora, refiro com grande destaque o último queijo que me trouxeram dessa loja, um S. Jorge Rosais de sete meses (!) de cura, mas ainda bem untuoso, com aspecto de estar a lascar mas afinal mole quanto baste, a desfazer-se na boca. Uma preciosidade. Ofuscava por completo um Topo que também recebi, apesar de este também ter provado bastante bom.

Para terminar, outra variante do S. Jorge, o Lourais. Só falo nele porque é o S. Jorge "oficial" do Carrefour. Cada um compra o que quer. Um Lourais de 4 meses até pode ter muito bom sabor, mas que se estraga pela sensação de se estar a comer uma espécie de borracha.

P. S. (17:23) - Acabam de me informar que a loja se chama "O rei dos queijos".

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