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março 28, 2007

Peixes dos Açores

Qualquer continental que vá aos Açores, se procurar bem e até sem ir ao mercado, só nas ementas de restaurantes, defronta-se com peixes desconhecidos. Encontrei na net uma página útil, com a lista dos principais peixes açorianos, seus nomes científicos e tradução em inglês.

Dela extraio alguns casos mais notáveis, de peixes que não encontro cá, ou só muito excepcionalmente: anchova, bagre, bicuda, boca negra, cântaro, cantarino, bodião, boga, bonito, encharéu, gata, lixa, lírio, mero, moreia, peixe rei, rocaz, serra, veja.

Ficam particularmente bem para assar a anchova, a bicuda, o bodião (quando grande), o bonito, o cântaro (que também pode ser cozido) e a serra. Destaco três. A anchova tem um sabor excelente, marcado. Não é por acaso que dá depois os excelentes filetes de conserva. A bicuda é vagamente familiar para quem andou por África e comeu barracuda. Simplesmente, em lugar da enorme barracuda africana, seca e pouco saborosa, a pequena bicuda é excelente para assar ou rechear. Pelo contrario, a serra é variante muito maior de peixe cá bem conhecido, a cavala. É o peixe preferido do meu povo, para rechear. Peixe recheado, prato genuinamente popular nos Açores, merece crónica um dia destes.

Fritos ou grelhados, boca negra, bodião, cantarino, moreia, peixe rei. Hoje prestam-se também para variados pratos modernos de lombos. Destaque especial, para fritar, à moreia. Indescritível, de gosto, macieza. Também honras ao peixe rei. Para quem, como eu, é apaixonado pelo salmonete, o peixinho rei é uma muito razoável aproximação barata para o dia-a-dia.

Casos especiais são o mero e o rocaz. Conjugam a firmeza da carne com grande finura de sabor. Estão mesmo a calhar para todas as preparações modernas de peixe (lombos, rolos, medalhões, etc.), em alternativa ao cherne. O rocaz tem ainda outra característica. A par do salmonete, ou até melhor, é o peixe com o fígado mais saboroso que conheço, com um toque amariscado. Dos peixes de que tenho estado a falar é um que já consegui comer no continente, depois de muita procura. Já agora, atenção a coisa maçadora do rocaz, o do perigo ao arranjá-lo, com todas as suas agulhas que, se picado o cozinheiro, podem dar uma boa infecção local.

Finalmente, o chicharro (carapau, no continente). Não há cá. Tolice, vão responder-me. É que nos Açores é o carapau negrão ou do alto (Trachurus picturatus), enquanto que o continental é o carapau branco (Trachurus trachurus). Vão lá experimentar e ver como são diferentes. Também ninguém confunde cavalo (Equus caballus) e burro (Equus asinus), pois não?

4 Comentários:

Anonymous Anónimo escreveu...

Só recentemente, por conselho de pessoa avisada na matéria, conheci este seu recanto. Magnífico a todos os títulos: escrita fluida, escorreita, humor genuino e não forçado, saber invejável.

Considero-me um bom garfo, amante da cozinha portuguesa, se bem que iletrado no que toca à confeção. (Safam-se os grelhados de peixe ou carne).

Mas não é naquela qualidade que invado o seu espaço, mas sim na de pescador desportivo que considera haver uma imprecisão neste post. Falo da anchova, esse peixe requintado que também se encontra no Mediterrâneo e na costa algarvia. É de facto uma escolha de primeira para assar (forno ou carvão) mas não é dele que resultam os saborosos filetes. Esses são provenientes do biqueirão, um peixe bem mais pequeno e sem outras qualidades gastronómicas dignas de saliência.

Fiquei leitor: atento e invejoso.

JLV

20/4/07 19:17  
Blogger JVC escreveu...

O anónimo tem toda a razão em relação à anchova. Não sei como é que pude escrever tal asneira.

20/4/07 20:01  
Anonymous Anónimo escreveu...

bodião e veja são o mesmo peixe (sparisoma cretense); encontra-se no continente (Lisboa) todas as semanas no supermercado Sá no Campo Pequeno

26/5/07 16:36  
Blogger JVC escreveu...

Muito obrigado pela informação. Lá irei.

26/5/07 17:10  

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