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dezembro 17, 2006

Vegetais açorianos (II)

Há uma semana, não sei como, esqueci-me de outro vegetal emblemático açoriano, o funcho. Não tem nada a ver com o bolbo de funcho (Anethum foeniculum) característico da cozinha francesa (acompanhamento de peixes, entradas) que já encontramos cá. Refiro-me é ao funcho selvagem ou bastardo (Anethum graveolis), de que não se come o bolbo mas sim a rama. Em algumas boas lojas continentais, arranjam-se as folhas terminais, com o nome de aneto eu endro. Têm um perfume de grande requinte e há que usá-lo com sabedoria. Nos Açores, não se usam só as folhas terminais, em fio. Os talos, tenros, também são muito saborosos e perfumados, creio mesmo que aromatizam a sopa mais do que as folhinhas em fio.

Nas minhas ilhas, o funcho é selvagem. Aqui, no Alentejo, já o apanhei à beira da estrada mas, talvez por exagero meu, não me sabe ao da minha meninice. A sua utilização emblemática, nos Açores, é na sopa de funcho. Aqui fica a receita, para quatro pessoas.
Um ramo de funcho, meio repolho pequeno (açoriano!), 300 g de feijão branco, 4 batatas, um chispe, 100 g de toucinho, meia linguiça de S. Miguel (na falta, bom chouriço alentejano), sal, pimenta preta, pimenta da Jamaica.

Cozer primeiro o feijão, demolhado de véspera, com o funcho picado grosso, o repolho picado, o chispe, o toucinho aos cubos e os temperos. A 10 minutos do fim, juntar a batata aos cubos pequenos e a linguiça às rodelas médias. Servir sem o chispe (na minha terra chama-se chanco) e o toucinho.
Isto faz-me passar para vegetal nada açoriano, a beldroega. Pouca gente a conhecia lá, o meu pai era dos poucos e ficou encantado por encontrar beldroegas em profusão numa quinta onde fomos passar férias. A minha avó materna não sabia como fazer a sopa de que o meu pai só tinha vaga ideia de criança mas, inventiva como era, resolveu fazer sopa de beldroegas como se fosse sopa de funcho. Ainda a hoje a faço muitas vezes e recomendo, bem diferente da tradição alentejana.

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