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janeiro 06, 2006

Uma sopa à indiana

Em relação às cozinhas exóticas, tenho duas atitudes. Em geral, gosto de seguir fielmente receitas que me merecem confiança. Outras vezes, improviso, "ao estilo", como uma sopa de inspiração oriental que criei e que vem no meu livro.

Há dias, a minha mulher cozinhou uma sopa deliciosa, que uma amiga lhe passou, "ao estilo indiano". Claro que não tem nada a ver com a cozinha tradicional indiana. Aqui fica a receita: uma abóbora de cabaça, grande (ou o equivalente de qualquer outra abóbora); uma cebola grande, aos gomos ou rodelas; um dente de alho pisado; meia raiz de gengibre ralada, ou o equivalente em pó; uma cabeça de nabo, aos cubos grossos; uma colher de sobremesa de pó de caril; 250 g ou uma lata de leite de coco. Coze tudo num litro de água, excepto o leite de coco, e, no fim, moi-se e ajusta-se a água para creme ligeiro. Junta-se e leite de coco e deixa-se ferver mais cinco minutos.

Mas esta sopa que nos caiu muito bem suscitou alguma discussão com a minha mulher. Ela é principalmente uma grande conhecedora das cozinhas tradicionais portuguesas, menos das estrangeiras. Por isto, não percebeu quando lhe disse que a sopa também devia levar um tomate grande.

É que, na cozinha indiana, o uso do leite de coco é muito característico da cozinha goesa, embora também ele entre em outros pratos da costa sudoeste da Índia. Em geral, na cozinha indiana, usa-se uma variante de iogurte para engrossar e aromatizar o molho, em vez do excelente leite de coco. Mas o mais característico que deixámos na cozinha goesa foi o uso do tomate. Daí a minha sugestão para a próxima vez em que a Graça fizer esta óptima sopa. Também sugeriria, à goesa, umas folhas de coentro a decorar.

Finalmente uma nota sobre o pó de caril. Para esta sopa, muito bem um comercial. Mas, quando faço um prato de cozinha indiana, preparo o meu próprio "garam massala", variando um pouco conforme os ingredientes e a inspiração. Preparo-o com ingredientes frescos que hoje encontro facilmente nas lojas indianas da Praça da Ribeira ou do Martim Moniz: 20 cardamomos pequenos e 8 grandes, 5 c. chá de cominhos, 3 c. chá de pimenta preta, 3 c. chá de cravinhos, 3 c. chá de canela, 1 c. chá de sementes de coentro, um toque de noz moscada. Às vezes, também acrescento umas sementes de feno grego. Tudo bem moído e torrado numa frigideira, sem gordura. Experimentem, a ver se há algum pó comercial que chegue. Claro que faltam dois ingredientes essenciais, a juntar à parte. O gengibre, de preferência ralado de raízes frescas, e uma boa vagem de tamarindo, de que se aproveita a polpa que reveste as sementes, escaldada em água e bem pisada.

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